« […] convém sublinhar que o virtuosismo de António Figueira está sempre ao serviço de uma ideia de literatura. Ou melhor, de uma vontade literária em contínuo questionamento, a que não falta graça e panache, gozo lúdico e ironia. Seja na Ode ao Nabo, que defende o «encanto» do mui «nobre vegetal» (num único mas veemente parágrafo), seja na engenhosa paródia às teorias da conspiração (Rerum Cognoscere Causas), seja na formidável mas trágica saga do «primeiro grande não-autor da história da literatura mundial» (deliciosa sátira aos mitos literários e ao culto fetichista dos respectivos espólios), vemos surgir do nada uma voz poderosa. O Filho de Campo de Ourique que dá título ao livro pode ser um simulacro de escritor, uma divertida inexistência. Mas o pai do Filho de Campo de Ourique, pelo contrário, é um escritor a sério.»
José Mário Silva, Ler
«Como aquele que é hoje talvez o seu maior estudioso proclamou uma vez, provocador, "O Filho de Campo de Ourique é o primeiro grande não-autor da história da literatura mundial”. Se a fama póstuma que ele preparava era do tipo convencional, ancorada numa obra material e de peso, ou se admitia já a ideia, ao seu tempo extravagante, de fazer história apenas pelo gesto, pela palavra suposta e hipotética e não pela palavra real e vertida no papel, é algo que nunca saberemos: é certo que o Filho deixou um lastro de papel atrás de si – mas tanto podia destinar-se a ser lido como a ser queimado, dois fins igualmente possíveis para uma obra controversa como (calcula-se) era a sua.»